segunda-feira, 18 de abril de 2011

O imprescindível bufão Leo Bassi

"Sou uma pessoa que me fiz por mim mesmo porque sou fruto da tradição circense de muitas nacionalidades distintas. Vivi em muitos países diferentes. Cada dia da minha vida fui consciente de que era totalmente livre e que poderia criar qualquer Leo Bassi. Já me reinventei cinco vezes em minha vida. Fiz malabares na Asia, China e Japão. Fui artista de rua na Europa. Performance de discoteca. Showman de TV na Espanha, Itália e Alemanha. Minha última reencarnação - homem de teatro - que já dura quase duas décadas, é com a qual sou mais feliz. Além disso, minha tradição circense me transformou em filósofo, político e provocador."

O trecho acima foi publicado na revista semanal espanhola El Siglo, edição da última semana de abril de 2009, entrevista concedida ao brasileiro Jairo Maximo. Leo Bassi é referência em todas essas encarnações. Esteve no Brasil algumas vezes, a última no ano passado. Afortunadamente, estava em Belo Horizonte no fatídico 11 de setembro. De origem italiana, nasceu em Nova York, atuou em toda a Europa e, recentemente, suas peças foram alvo de ataques terroristas. O motivo são suas posições anarquistas, ou melhor, de "bufão", como define na mesma entrevista. Bassi também pode ser visto no filme Illuminata (1998), de John Turturro. Seguem outros trechos da entrevista desse filósofo anárquico do riso, que revela uma lucidez inquietante:

"Os bufões e os palhaços buscam sempre o lado positivo da vida. Crêem nas pessoas, porque se não crêssem nelas não as poderia fazer rir.(...) Lentamente descobri dentro de mim onde eu estava escondido. Foi quando perdi o medo de me expressar e de ser eu mesmo. O bufão não tem medo. Por isso é difícil ser bufão, pois a primeira coisa que ele tem que perder é o medo dentro de si. Quanto mais descubro o bufão dentro de mim, mais radicais se tornam meus espetáculos."

"É evidente que os bufões fazem rir, nada mais. Agora, o fazer rir, para os bufões, é a ferramenta que utilizam para expressar coisas profundas. O público pode estar só com o seu exterior, que é o riso. E isso é frustrante para um bufão."

"Não há crise para o bufão. Nem material nem filosófica. Nos tempos de crise o público busca a alegria, a fugacidade do riso e esquecer os seus problemas. Consequentemente, já não há crise material para os bufões e palhaços. (...) Filosoficamente a crise é um momento eufórico para o bufão. Por que? Porque evidencia que é correto o que os bufões sem dizem: 'O rei está nu. O modelo economico neoliberal é uma fraude.' (...) Se você fala da crise e faz as pessoas rirem, significa que você faz uma boa análise política, e está dizendo aquilo que o público quer escutar. O chiste não surge do nada; tem que pensar."

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